Crônicas e Controvérsias

Discurso fundador e Representação:
os sentidos de “brasileiro” em Oliveira Viana
e em Sérgio Buarque de Holanda

Carolina de Paula Machado1

 

Introdução
Neste artigo trataremos da maneira como se dá a representação de quem é o “brasileiro” em duas obras frequentemente referidas das Ciências Sociais, que têm como tema a formação da sociedade brasileira: A Evolução do Povo Brasileiro, de Oliveira Viana, de 1923, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, de 1936. Nosso objetivo é compreender que sentidos são atribuídos àqueles que constituem o povo brasileiro, formando assim uma representação que faz parte de uma memória de sentidos funcionando como um saber estabilizado, parte de um saber comum, rememorado quando no Brasil se pensa o que é ser brasileiro. Como diz Orlandi (2003, p. 13) sobre os enunciados que podem compor um discurso fundador, eles (...) “são espaços da identidade histórica: é memória temporalizada, que se apresenta como institucional, legítima.”
A obra de Oliveira Viana realiza uma análise da formação social brasileira utilizando uma teoria que se baseia na evolução das raças. Holanda realiza uma descrição da formação social do Brasil de forma a descrever o tipo português que vai resultar na famosa caracterização do brasileiro como “homem cordial”, um tipo que é movido pelas emoções. Propomos analisar nas duas obras as palavras povo, grupo, gente, raça, sociedade, e outras articuladas a elas, tais como os pronomes nós/nosso e os adjetivos nacional, brasileiro, português, entre outros, para mostrar como a partir delas vão se construindo discursos sobre o brasileiro, que compõem discursos fundadores, na medida em que esses autores caracterizam as “raças” ou “tipos” que fazem parte da sociedade brasileira. E isso se dá na relação “civilizados”/ “primitivos”, “raça superior”/ “raça inferior”, “cultura superior”/ “cultura inferior”, com base na “psicologia (caráter)” desses povos e na sua constituição “biológica”.
Observando os enunciados sobre o índio, o negro, o mestiço, o branco (português) e o povo de maneira geral, a pergunta que fizemos é que imagem dos brasileiros érepresentada nos textos em questão, considerando a condição histórica brasileira da colonização portuguesa e o momento em que essas obras foram produzidas. Nossa hipótese é de que o funcionamento ideológico da evidência dos sentidos conduz a uma naturalização dos lugares sociais, dualizando-os: de um lado, temos a posição do colonizador (superior), e de outro, o lugar dos colonizados (inferiores), mesmo que os autores assumam uma posição nacionalista em defesa do Brasil.
Buscar compreender que sentidos constituem a representação do brasileiro nas duas obras selecionadas que contribuem para a formação do pensamento social no Brasil nos insere na área de História das Idéias Lingüísticas. Fundamentamo-nos em noções de dois lugares teóricos distintos, a Semântica do Acontecimento e a Análise do Discurso, mas que confluem no interior do materialismo histórico, isto é, considerando que o homem faz história e que o processo lhe escapa, e que esse processo é simbolizado pela língua, havendo sempre a interpretação. De acordo com essa perspectiva, os sentidos são constituídos ideologicamente na relação com a história, o social e o político.
Para nossa análise, duas noções são fundamentais: a de discurso fundador (Orlandi, 2003), já apresentada acima, e a de representação (Auroux, 2008). A representação, característica dos seres vivos, é definida da seguinte forma:

Dentre aquilo que os afeta, existem algumas impressões que possuem a propriedade de ser automaticamente relacionadas/relacionáveis aos objetos e aos sujeitos do mundo exterior, não simplesmente como causas, mas como algo que pode eventualmente valer em seu lugar. São as representações. (AUROUX, 2008, p.125).

A representação seria então o que se tem da relação do mundo com os sujeitos, isto é, as impressões que estes têm do mundo. Considerando essa noção do ponto de vista da historicidade da linguagem, podemos pensar a representação como sendo os sentidos constituídos historicamente nas relações lingüísticas para o brasileiro, de maneira a construir suas representações, e ao mesmo tempo determinando-o enquanto sujeito de linguagem.
A produção de conhecimento é compreendida como sendo produtora de formas de representação da relação do sujeito com o mundo. No nosso caso específico, trata-se da relação dos sociólogos com a sociedade brasileira representando os brasileiros em suas obras, que fazem parte da produção do conhecimento historicamente constituída, na relação com a ideologia.
A ideologia não é entendida aqui como conteúdo, como uma visão de mundo. De acordo com Orlandi (2005), a ideologia é a produção de evidências no funcionamento discursivo. A evidência dos sentidos impede que outras interpretações sejam possíveis. É nesse funcionamento ideológico do discurso que o indivíduo é interpelado em sujeito.
A autora afirma que, “(...) em relação à história de um país, os discursos fundadores são discursos que funcionam como referência básica no imaginário constitutivo desse país” (Orlandi, 2003, p.7), e vão se cristalizando na memória nacional. Os enunciados que vão caracterizar os discursos fundadores são situados como “lugares” em que a memória nacional se fixou. São enunciados que

vão nos inventando um passado inequívoco e empurrando um futuro pela frente  e que nos dão a sensação de estarmos dentro de uma história e de um mundo conhecido: diga ao povo que fico, quem for brasileiro siga-me, libertas quae sera tamen, independência ou morte, em se plantando tudo dá (Orlandi, 2003, p. 12).

E por terem se fixado, esses enunciados sempre se fazem presentes, mesmo que com modificações, quando se pensa na nacionalidade brasileira. Em nosso caso, analisaremos o modo como palavras ou expressões integram enunciados que, por sua vez, integram  textos (Guimarães, 2002), considerando-as como marcas que constroem esses “espaços de identidade histórica” do Brasil (Orlandi, op.cit.), reconhecendo os sentidos que significam e re-significam o brasileiro, constituindo outros sentidos para o imaginário do que é ser brasileiro a partir do já-dito.
Para realizar as análises, consideramos que o funcionamento da linguagem se dá através relação entre o “mesmo” e o “diferente” para a constituição dos sentidos. É na tensão entre a paráfrase e a polissemia que os sentidos vão se tornando outros:

a paráfrase representa assim o retorno aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da estabilização. Ao passo que, na polissemia, o que temos é o deslocamento, ruptura de processos de significação. Ela joga com o equívoco” (Orlandi, 2005,  p. 36).

Observando-se as regularidades lingüísticas pelas paráfrases, há o equívoco na sua materialidade que leva ao deslizamento dos sentidos, à falha no processo ideológico. Para então analisar esse processo parafrástico que leva à ruptura de outros sentidos, nos servimos dos procedimentos de reescritura e de articulação. Com isso, chegamos à da noção de Domínio Semântico de Determinação (DSD) tal como se propõe na Semântica do Acontecimento. Segundo Guimarães, os procedimentos de reescritura

são procedimentos pelos quais a enunciação de um texto rediz insistentemente o que já foi dito. Assim, a textualidade e o sentido das expressões se constituem pelo texto por esta reescrituração infinita da linguagem que se dá como finita pelo acontecimento (e sua temporalidade) em que se enuncia (Guimarães, 2002, p. 28).

Desse modo, a reescritura pode ser entendida como um procedimento parafrástico pelo qual se dá a textualidade, tecendo-se os sentidos, produzindo a polissemia. Isso se dá na medida em que ao repetir o mesmo, mas como algo diferente de si, ou seja, através de outras palavras que retomam a palavra ou expressão que está sendo analisada, são produzidos, na tensão entre o mesmo e o diferente, outros sentidos no acontecimento enunciativo. A articulação “diz respeito às relações próprias das contigüidades locais. De como o funcionamento de certas formas afetam outras que elas não redizem” (Guimarães, 2007, p. 88).
O processo de reescritura é representado pelo domínio semântico de determinação das palavras. Com isso podemos chegar ao que uma palavra designa, entendendo a designação como “uma relação lingüística de sentido enquanto exposta ao real. Deste modo esta relação lingüística é uma relação tomada na história” (Ibidem, p.81). 

Os portugueses no Brasil: uma visão evolucionista

A obra “A evolução do povo brasileiro”2 interessou-nos por dois motivos: primeiro porque ela aborda a formação da sociedade a partir de uma teoria marcada por uma visão evolucionista de muita importância no século XIX, mas que continua a circular no século XX. Em segundo lugar, ela serviu de prefácio a um recenseamento demográfico e econômico realizado em 1920, organizado pelo Ministério da Agricultura, publicado no ano do centenário da Independência do Brasil. Isto é, ela é tomada como um conhecimento autorizado e legitimado pelo Estado sobre a nossa sociedade, conhecimento este produzido a partir de teorias de caráter evolucionista.
Os dados utilizados pelo autor (resultantes do censo de 1890) são interpretados a partir de uma posição biologista, que produz uma rede de sentidos específica sobre a diversidade do povo brasileiro tais como o de que os “brancos” são “superiores” aos índios e negros; de que a população estaria passando por um processo de “clareamento”, sentidos esses que sustentam um nocivo preconceito racial que ainda circula em nossos dias.
Outro ponto que gostaríamos de destacar diz respeito ao momento histórico em que tal obra foi publicada, um período em que começa um movimento para se modernizar o Brasil e desvinculá-lo do passado colonialista e imperialista para construir uma “identidade própria”, não vinculada ao domínio europeu. Assim, começa o movimento modernista por parte da intelectualidade brasileira.
Nessa obra, Viana3 tem por objetivo estudar “a nossa evolução nacional”, tanto em termos sociais quanto das instituições políticas. Observando esse sintagma nominal podemos questionar o que o pronome possessivo nossa está retomando, ou melhor, o sujeito ao qual esse pronome está atribuindo a relação de posse. Se pensarmos no título do livro, poderíamos supor que se trata da evolução do povo brasileiro. Ele continua, nesse mesmo parágrafo, a enumerar a preocupação com a “nossa história”, o “nosso povo”, “nós mesmos”.
Ele faz uma crítica à ideia de “unilateralidade de evolução” de Spencer, isto é, a generalização que acaba ocorrendo com a aplicação de “leis gerais” para explicar a evolução da sociedade, das línguas, da humanidade e das instituições. O problema disso é que não haveria particularidades na evolução de cada povo e, assim, bastaria aplicar as tais leis para se saber o estágio futuro. Entretanto, segundo Viana, nem todos os povos teriam seguido as leis evolutivas na mesma ordem. Ele diz que, por exemplo, povos agrícolas não teriam sido necessariamente pastores antes de se tornarem agricultores. Com essa observação, ele cita um exemplo brasileiro:

E nós mesmos temos, em nossa história e em nosso povo, desmedidos flagrantes dessa famosa lei evolutiva, com a primitiva população de açorianos do Rio Grande do sul, que de um regimen agrícola pronunciado evoluiu rapidamente para um regimen pastoril pronunciado (...) (Viana, 1923, p. 14).

Gostaríamos de chamar a atenção para os pronomes nós, nossa e para o sintagma nominal nosso povo. Neste caso, reconhecemos o sujeito gramatical que antes era indeterminado e sua posição é ocupada pelo pronome pessoal nós e nosso povo ocupa uma posição de adjunto. E agora, observando a relação que se estabelece entre nós, nossa e nosso neste recorte, será que podemos pensar que nós está substituindo o povo brasileiro do título e o sintagma nosso povo reescreve  nós de forma a incluí-lo ao povo? Ou será que nós não reescreve povo brasileiro mas é a palavra povo, que compõe o sintagma nosso povo, que reescreve povo brasileiro?
Na materialidade do texto, percebemos esse equívoco em relação a quem, ou a que o pronome pessoal nós diz respeito e a relação de posse que os pronomes possessivos nosso e nossa estabelecem. Vejamos então como se dá a articulação desses pronomes na primeira parte do livro de maneira a compreender quais sentidos não estão explicitados mas que tornam possível essa oscilação.
Embora o autor não se filie à aplicação das “leis gerais”, ele continua na mesma posição evolucionista não deixando de considerar a evolução dos grupos. A diferença é que para ele os grupos evoluem determinados pelo meio cósmico em que vivem, o que não permite a generalização das leis.
A “história” que ele menciona diz respeito a fatos que foram se sucedendo cronologicamente, de forma progressiva, que levariam à “evolução” da população de açorianos, isto, é um movimento natural. Ela não é processo para a análise das causa que levaram esse povo a deixar de ser agrícola e para ser pastoril.
Entendemos que esse autor para sua época busca dar sua contribuição à teoria evolucionista, embora continue utilizando-a para explicar questões sociais. Mas mesmo reconhecendo a heterogeneidade dos povos e desprezando a homogeneidade pensada por Spencer, é reafirmada a posição de superioridade dos colonizadores, homens brancos, garantindo sua dominação. Segundo ele, diversos são os fatores que fazem com que haja essa heterogeneidade inicial evolutiva: “os factores ethnicos, factores econômicos, factores climaticos (...)” (Viana, 1923, p.19). Para ele, era preciso estudar a “nossa história” mas sem buscar pelas leis gerais. Seria preciso estudar o “nosso povo”, pois com isso é possível conhecer “a nós mesmos”. E, nessa enumeração, continua a haver a relação nós/nosso(a) ao longo do texto. Conhecer as leis que regem a evolução da “nossa formação” prepararia a base para uma “política objetiva e experimental, de uma política orgânica, induzida das condições especificas da nossa estructura social e da nossa mentalidade colletiva”(Ibidem, p.28).
O tipo de organização política do Brasil seria determinado, portanto, pela evolução do grupo que vivia aqui. Ele defende então uma política “orgânica”, isto é, uma política derivada do tônus evolutivo de um grupo. Podemos formular uma pergunta a qual Viana parece buscar responder: a partir da lógica “orgânica”, qual seria a política apropriada para o Brasil tendo em vista a pluralidade de “raças”que compõe o povo brasileiro? Para isso, ele vai buscar as especificidades da nossa evolução descrevendo o nós, com um “espírito de objetividade” e “imparcialidade”4:

Nenhum erro maior do que o daquelles que, partindo de uma suposta identidade entre nós e os outros grandes povos civilisados  julgam-se dispensados de estudar o nosso grupo nacional nas suas peculiaridades. Essa abstenção encerra um erro imenso, comparável ao erro do médico, que partindo do facto de que todos os homens têm a mesma physiologia, se julgasse dispensado de pesquizar, para a formulação do seu diagnóstico e a determinação da therapeutica aconselhavel, as particularidades idiosyncrasicas de cada doente. Faria, neste caso, não obra sincera e honesta da sciencia e, muito menos, obra technica de medico, mas apenas obra grosseira ou leviana, de charlatão, á semelhança dos nossos boticarios de aldeia tão deliciosamente interessantes no desembaraço com que applicam, a olho e pelas apparencias, conhecidas formulas feitas, pilhadas ao Chernviz.
Já mostrei, aliás, no meu ensaio sobre O idealismo na evolução política como tem sido funesto para nós esse preconceito da absoluta semelhança entre nós e os outros povos civilisados e como esse preconceito, com que justificamos a imitação systemâtica das instituições européas nos tem valido, há cerca de cem annos, decepções dolorosas e fracassos desconcertantes.
Nunca será demais insistir na urgencia da reacção contra esse preconceito secular: na necessidade de estudarmos o nosso povo em todos os seus aspectos; no immenso valor pratico destes estudos. Somente elles nos poderão fornecer os dados concretos de um programma nacional de reformas políticas e sociais, sobre cujo exito poderemos contar com segurança.
Há por exemplo para nós, povo de transplantação em cujo solo confluem tantas raças exoticas, um formidavel problema pratico que interessa fundamentalmente a orientação dos nossos destinos. E’ o conhecimento das reacções do meio cosmico sobre o advena5, aquillo que Huntington chama ‘o conhecimento de como nos adaptar á natureza ou de como adaptar á natureza ao homem’. É um problema central de que está dependendo o futuro e a grandeza da civilização do ocidenteflor delicada dos climas frios  – nestes climas tropicaes”(Ibidem, 28-30).

Quando ele afirma termos a “mesma civilização” fica mantida não apenas a mesma ideia de civilização como também a mesma ideia de povo/cultura civilizada. Então, entre a paráfrase e a polissemia, mesmo e diferente, ao longo de seu discurso sobre o preconceito secular, o mesmo acaba sendo reafirmado. Nesses dois parágrafos, podemos observar o pronome pessoal nós em relação ao pronome nosso(s) numa relação de alteridade com o pronome outros. Nós vai sendo reescrito por Nosso grupo nacional, por povo de transplantação, por advena, e por civilização do ocidente que por sua vez é reescrito por flor delicada dos climas frios. Cada reescritura determina nós atribuindo-lhe sentidos que configuram sua designação neste acontecimento. Para observar então esses sentidos, elaboramos o seu domínio semântico de determinação a partir das reescrituras acima descritas ( o símbolo  ┤em qualquer direção significa “determina”):

Já para o sintagma nominal outros grandes povos civilizados, podemos estabelecer o seguinte domínio:

O pronome nós está articulado ao pronome outros pela conjunção e, o que indica coordenação. Os sintagmas civilização do ocidente e flor delicada dos climas frios são determinados pelo adjunto adverbial de lugar nestes climas frios. Com isso, podemos dizer que nós é determinado também pela reescrituras civilização do ocidente e flor delicada dos climas frios que determinam outros grandes povos civilizados, porque esta civilização que vem de um clima frio está agora num clima tropical. Isso, mais a relação de coordenação indicam que uma parte do que nós significa é comum a outros. Assim, “nós” vai sendo definido pela comparação com “outros”, não numa relação de antonímia, mas numa relação de hiponímia6 neste acontecimento. Uma outra parte de sua significação determinada pela reescritura nosso grupo nacional mostra que há diferença entre “nós” e “outros”.
Pela comparação dos domínios semânticos podemos observar que há uma rede parafrástica que se forma textualmente e que se configura da seguinte forma (as setas        indicam a paráfrase, e o símbolo < indica que “nós” estabelece uma relação de intersecção com “outros grandes povos civilizados”):

                    
Grupo nacional                      

Nós, tendo uma parte do sentido contido em outros grandes povos civilizados, pode ser parafraseado por povo de transplantação, advena e por grupo nacional. Outros grandes povos grandes povos civilizados, por conter nós, pode ser parafraseado por flor delicada dos climas frios, por civilização do ocidente, assim como por advena, por povo de transplantação, numa relação de simetria, mas não por grupo nacional. Nessas relações de sentido, o sintagma nominal raças exóticas fica fora da relação parafrástica. No último parágrafo, a expressão cujo solo indica o pertencimento do território ao povo de transplantação, mas não às raças exóticas que apenas “confluiriam” nesse solo. O grupo raças exóticas, por não fazer parte do “povo civilizado”, poderia ser parafraseado, em relação a povo “civilizado”, por raças “não-civilizadas”. Essa relação de exclusão parece continuar como vemos no recorte seguinte:

Ora, este problema não pode ser inteiramente resolvido com formulas feitas fóra daqui, mas sim com um estudo local e particular do nosso meio e da gente, que o habita (...) (Ibidem, p. 30).

Observando a expressão paradigmática nosso(a) X que vem se repetindo ao longo do texto, chama atenção que nosso meio segue esse paradigma, mas gente não. A oração subordinada que segue depois de uma pausa, dá-nos a explicação: trata-se da gente que habita a terra, mas que não a possui. Assim, podemos dizer que raças exóticas é reescrito por gente. Gente remeteria aos ‘selvagens’, os ‘não-civilizados’, enfim, os ‘índios’. O pronome nosso acompanha meio estabelecendo uma relação de posse do meio e não de inclusão, pertencimento. O sintagma “raças exóticas” faz parte de um discurso fundador sobre o Brasil, a partir da visão dos colonizadores portugueses.
Assim teríamos o seguinte domínio semântico de determinação (DSD) para a articulação nós e outros (o traço maior ---------- indica uma relação de antonímia que se dá pela oposição dos sentidos entre civilizado e não civilizado):

Considerando este DSD,podemos dizer que “nós” por ter em comum com “outros grandes povos civilizados as reescrituras civilização do ocidente e flor delicada dos climas frios e em relação ao passado recortado neste acontecimento, que diz respeito à colonização do Brasil feita pelos portugueses, ele  pode ser parafraseado por colonizador português no Brasil ou pela elite descendente dos portugueses colonizadores, mas não por povo brasileiro que aparece no título do livro. Assim, o lugar do sujeito seria o do colonizador português no Brasil.Voltemos agora à relação nós/nosso. Já sabemos que “nós” não reescreve povo brasileiro, confirmando assim a segunda hipótese que levantamos inicialmente sobre “nós”. Uma vez que “nós” refere ao português colonizador no Brasil, resta-nos saber qual a relação que nós estabelece com nosso.
Apesar de o funcionamento do pronome nós e também do pronome possessivo nosso(a)(s) aparentemente incluir todos os que viviam no Brasil,  notamos a exclusão das raças exóticas. Apesar de haver um efeito de homogeneização através do pronome nós, na primeira pessoa do plural, que nos levaria a pensar que Viana está incluindo todos os que viviam no Brasil, compreendemos que as raças exóticas pertenceriam ao grupo nacional, porque ocupam o mesmo solo que nós mas, ao mesmo tempo, são excluídas, uma vez que não são civilizadas, como o conjunto ao qual refere nós.
O pronome possessivo nosso, funcionando em relação a nós, aparece, nesse caso, para estabelecer a diferença com o outro através da ideia de pertencimento ao grupo nacional. Assim temos nosso grupo nacional, nossos boticários, nossos destinos, nossa mentalidade coletiva, nossa estrutura social, nossa história, nossa evolução nacional, nossopovo, nossa gente, etc. Mas esse pronome, além dessa função de estabelecer a diferença com Portugal, também indica o pertencimento de nós ao nosso povo e ao nosso grupo nacional, como em

Nenhum erro maior do que o daquelles que, partindo de uma suposta identidade entre nós e os outros grandes povos civilisados (porque temos a mesma civilisação) julgam-se dispensados de estudar o nosso grupo nacional nas suas peculiaridades.
Nunca será demais insistir na urgencia da reacção contra esse preconceito secular: na necessidade de estudarmos o nosso povo em todos os seus aspectos; no immenso valor pratico destes estudos.

Mas, ao mesmo tempo, considerando que nós seria o português colonizador, poderíamos parafrasear nosso povo por povo brasileiro. Desse modo, poderíamos considerar que a relação de pertencimento seria do povo brasileiro ao colonizador português ou à elite que ocupou seu lugar.
Quando Viana está falando das peculiaridades nacionais, isto é, o que diferencia esse “nós” dos “outros povos civilizados”, ele fala das (1) “características nacionais da nossa gente”, ou seja, características de grupos que vivem no Brasil. Neste recorte, também temos a dupla possibilidade: nossa gente pode ser tanto os portugueses colonizadores (ou também a elite que ocupa seu lugar), e então teríamos o funcionamento de nosso indicando o pertencimento dos portugueses à nossa gente ou o funcionamento de posse e aí nossa gente referiria os negros e os índios que foram tomados como propriedade dos portugueses durante a colonização e então teríamos o pertencimento de “gente” aos portugueses. A relação de posse parece mais provável se observamos pelo DSD que gente reescreve raças exóticas.
Essa ambigüidade permanece ao longo do texto e se forma justamente por causa dos discursos possíveis que estão circulando: o discurso civilizador, que não inclui as “raças exóticas” entre o “povo civilizado”, o discurso positivista da ciência e um discurso nacionalista que busca marcar as diferenças entre o “nós”, “grupo nacional”, e os “portugueses da metrópole”. A princípio, poderíamos dizer que o discurso nacionalista se opõe ao discurso da colonização, uma vez que Viana busca sempre mostrar as diferenças. Entretanto, a ambigüidade em relação aos pronomes mostra o embate, no discurso do colonizador, entre manter a dominação, o poder dos portugueses na colônia recém independente e ao mesmo tempo, distanciar-se de Portugal marcando-se como uma nova nação. Assim, os portugueses ou descendentes continuam no poder, mas agora de uma nação que busca sua consolidação enquanto Estado independente e não mais como colônia.

As diferenças de civilização, de raças e a questão da nacionalidade
As raças exóticas estariam dentro do nosso grupo nacional porque vivem no mesmo espaço físico que os portugueses colonizadores. No entanto, ao mesmo tempo, tais raças ficam de fora do grupo porque são ‘raças não-civilizadas’, como vimos pela análise. Faltaria, então, a esse grupo tornar-se “civilizado” para pertencer ao grupo nacional e esse papel ficaria a cargo dos já “civilizados” colonizadores portugueses.

Herdamos o mesmo cabedal de elementos civilizadores, a mesma cultura, os mesmos ideaes, as mesmas instituições políticas e sociaes, e continuamos a respirar dentro do ambiente cultural, em que elles respiram, e a vibrar, tanto quanto possivel, ao rytimo das suas aspirações, sentimentos e idéas. Somos parte integrante de um todo, que é o mundo civilizado (...) Mas, embora todas essas attinencias e afinidades, dependências e semelhanças, não nos confundimos: somos diversos por muitos aspectos, distinctos por muitos lados, peculiares e exclusivamente nós mesmos por muitos modos de ser e de existir (Ibidem, p.30-31).

No trecho acima o autor enumera as semelhanças com o mundo civilizado nos níveis cultural, social, político, sentimental e ideal para mostrar que os que viviam no Brasil também eram “civilizados”. Entretanto também mostra que há diferenças no nível individual, psicológico, que é aquilo que distingue o nós, isto é, o “povo civilizado” que vive no Brasil, dos “povos civilizados europeus”. Ou seja, faz-se presente aqui a preocupação com a questão nacional pela delimitação das diferenças entre o “nosso povo” (português brasileiro) e o “português peninsular”. Um exemplo de diferença seria o fator “estrutural” proveniente da dispersão geográfica que afeta nossa organização das classes sociais:

Somos um povo, que por motivos particulares á nossa evolução, não temos, no quadro de nossas classes sociaes, uma classe media á maneira européa, nem as classes existentes, populares ou dirigentes, possuem a coherencia, a integração das classes correspondentes aos grandes povos civilizados (Ibidem, p. 32-33).

A diferença, mostrada no parágrafo acima, tem a ver com o modo como o meio em que os brasileiros vivem afetaria, conforme ele anunciara desde o começo, a evolução do povo propiciando com isso as nossas particularidades. Continua a utilização da primeira pessoa do plural, que dá um efeito de homogeneidade e, com isso, um tom nacionalista ao texto. Observamos a contradição de que não somos “tão civilizados” como ele afirmara anteriormente. Ao delimitar nossa nacionalidade pela diferença com o outro, o europeu, ele também demonstra que a civilização européia (ele compara a sociedade brasileira à inglesa também e não apenas à portuguesa) teria uma maior coerência e interação que a brasileira.
Na parte sobre a “Evolução da Sociedade”, são mostradas as diferenças entre os portugueses e os índios, e com isso, a suposta ‘inferioridade indígena’ que teria afetado os portugueses. Para ele, os portugueses que vieram para o Brasil tornaram-se um povo agricultor e pastor pelo contato com o índio. O índio é descrito como o typo natural da terra praticante de uma agricultura rudimentar e essencialmente rural, que não conhece o uso dos metaes em oposição aos indianos que seriam uma civilização milenária, população organizada, com riqueza accumulada e tradição comercial, valores que caracterizam o capitalismo mercantil. Através desses enunciados, observamos a divisão entre os indianos ‘civilizados’ e os índios ‘não-civilizados’. Ser ‘civilizado’ é, para Viana, ter tradição, é trabalhar com o comércio, é ter riquezas. Civilização é determinada, nesse acontecimento, pelos valores do mundo capitalista.
As características indígenas seriam incompatíveis com a atividade de tráfico que os lusitanos já praticavam nas Índias. Com a ‘falta’ de riqueza, ‘falta’ de base para uma organização puramente comercial restou aos ‘peninsulares’ a agricultura. Eis aí uma primeira diferença entre os portugueses europeus ‘comerciantes’ e os colonos portugueses. O português, o advena, vai se tornar agricultor mas traz a urbanização, o que levaria à evolução. Os índios são para ele naturalmente, por essência, fundamentalmente agricultores rudimentares. Ele caracteriza como algo natural, inato, que os índios fossem agricultores rudimentares, e com isso, com essa naturalização, nada mudaria essa condição. Praticar a agricultura somente para a subsistência como os índios faziam é significado aqui como primitivo, menos evoluído, e que por ser natural ao índio, ele “não evoluiria”.
Os portugueses que vieram para o Brasil seriam aventureiros à caça de fortuna rápida, homens de pequena nobreza e mesmo de grande nobreza, fidalgos arruinados. O afluxo plebeu viria depois para trabalhar nas minas.
Tratar-se-iam, portanto, dos “elementos aristocráticos”, “centros de gravitação”, “personagens reinantes”, “elementos sadios” os que vêm para a colônia e que seriam o contingente formador do nosso povo”. Além da agricultura, outra atividade que passou a ser praticada foi a criação de gado ou pastoreio em latifúndios por aqueles que não tinham dinheiro para investir em engenho de açúcar:

Nelle (no pastoreio) vamos encontrar os elementos populares, ricos de eugenismo, cheios de audácia e iniciativa, que a pobreza comprime, por um momento, nas baixas camadas sociaes. É por ele também que começam a sua classificação social esses mestiços superiores que o estigma da raça não permite que se classifiquem nos seus meios nativos (Ibidem, p. 61).

No recorte acima, ele começa já a falar dos mestiços como sendo superiores. São os mestiços superiores, ricos de eugenismo, representantes das qualidades superiores de coragem e força, que suportariam a selvageria amotinada dos índios. São eles que vão compor, segundo Viana, a nova raça em formação. Na sua visão evolucionista, ele fala da superioridade dos mestiços parecendo contrariar, neste primeiro momento, outras visões evolucionistas que consideram que a miscigenação de raças “superiores” com raças “inferiores” resultaria numa raça degenerada. A “superioridade” desses mestiços diz respeito, aqui, à cor de sua pele, seriam superiores aos que têm pele mais escura. Apesar de todo o absurdo racista7 da distinção dos povos ou etnias em raças superiores e inferiores, Viana parece estar sendo favorável à miscigenação. Esta posição é, em certa medida, condizente com o tom nacionalista que encontramos em seu texto, já que esse tema é central no estudo da sociedade brasileira. No entanto, esse discurso de apologia ao grupo nacional de valorização do mestiço, entra em contradição com a preocupação eugênica que ele demonstra e que vai sendo desenvolvida ao longo do livro.
Os negros seriam, para ele,os trabalhadores braçais. Na visão preconceituosa proveniente do discurso determinista, não há outra ocupação para eles, eles nasceram para servir:

(...) a organização do trabalho não póde deixar de ter por base a escravidão: num paiz despovoado e novo, onde a principio o homem da plebe, o trabalhador braçal rareia, é impossível a grande cultura por meio do trabalho livre (Ibidem, 1923, p. 63).

Viana trata a divisão social como algo natural: aos “brancos” caberia dar ordens, mandar, administrar, tutelar as “raças inferiores”; aos mestiços caberia serem criadores ou agricultores; os negros deveriam trabalhar como escravos e os índios, como veremos, são excluídos por não se deixarem “civilizar” como os negros. Dentro desta perspectiva, a naturalização das relações sociais é confortável aos falam do lugar do colonizador, porque justifica e legitima sua dominação, além de tornar imutável o lugar que cada um ocupa na sociedade. Assim, nessa visão, por sua capacidade que é ‘natural’, os brancos sempre ocupariam os cargos de poder, enquanto que aos negros só restaria serem escravos porque só seriam capazes de obedecer, (o que justificaria a impossibilidade de serem libertos) e os índios seriam selvagens, não-civilizados (autorizando seu extermínio).
Os índios são caracterizados como rudimentares, selvagens, vermes. Os negros, por sua ‘inferioridade’, só podiam ser escravos. Os portugueses instalariam “novos centros de riqueza e novos núcleos de povoamento e civilização” (Ibidem, p. 75). O ‘primitivo’ é substituído pela ‘civilização’.
No período Imperial, com a decadência da produção do açúcar, a produção de café passa a ser mais importante e continua exigindo, segundo ele, o “typo social superior”, “uma raça de homens magnificamente providos de talentos políticos e capacidades administrativas” (Ibidem,  p. 91). Tratar-se-ia de uma capacidade inata que mantém os portugueses, ou a elite que os substitui, no poder e que mantém as “raças inferiores” subjugadas a esse poder. É por isso que a abolição em 1888 é, para ele, um “golpe” que abala a sociedade rural fundada na “tradicional organização do trabalho agricola assentada sobre a base da escravidão” (Ibidem, p. 92). Ele considera a obra colonizadora o que possibilita ao Brasil ser um país “civilizado” na época do Império.
Neste período surgem, segundo ele, dois tipos para devastar as florestas e expandir o domínio em direção ao oeste: o “bugreiro” e o “grilleiro”. “O bugreiro surge nas zonas de attrito do civilizado com a nossa selvageria remanescente (...)” (Ibidem, p. 99). Ele “é um descendente desgenerado do primitivo mameluco das bandeiras” (Ibidem, p.99). Ele “varre e limpa a floresta tropical da sua sevandijaria americana” (...) para a vinda do paulista moderno, colonizador pacífico, o “colonizador progressivo” (Ibidem, p. 99). O índio nômade seria um “obstáculo material” ao bugreiro na “conquista civilizadora da terra”, ele é “povoador infecundo da floresta fecunda” (Ibidem, p. 100). Os mestiços do início da colonização evoluem e transformam-se na figura do bugreiro e do grileiro que seriam descendentes “degenerados”, ou seja, se no começo do texto ele tinha dito que os mestiços seriam superiores, agora eles são considerados como “degenerados”.
No capítulo sobre a “Evolução da Raça”, ele trata mais detalhadamente das características antropológicas do “povo portuguez”, dos “colonizadores brancos”, dos índios e dos negros, discutindo questões como a eugenia, a mestiçagem e a evolução.
Segundo ele, o português seria um dos grupos étnicos europeus com uma formação mais complexa, devido à maior mistura dos grupos étnicos. Eles seriam compostos por muitos grupos étnicos dos quais se destacariam dois grupos: “um louro, alto, dolicoide, de hábitos nômades e conquistadores; outro moreno, de pequena estatura, dolicoide ou brachyoide, de hábitos sedentarios e pacíficos” (Ibidem, p.109). Os primeiros comporiam a aristocracia feudal, a nobreza militar, enquanto os morenos de pequena estatura comporiam as classes médias e populares. Teria sido então o grupo dos louros altos conquistadores que vieram para desbravar a colônia, a princípio, e depois teriam vindo os de proveniência céltica.
Ele vai significando um tipo como melhor que o outro através de qualificações de um discurso purista pautado por uma descrição biológica sem fundamento, “só a presença nas suas veias de glóbulos de sangue dolico-louros póde explicar a sua combatitividade (...)”, classificando assim o homem branco, louro, alto como superior ao tipo moreno e baixo. O português assim descrito é parte superior da mistura de três raças diferentes das quais duas seriam “exóticas” e inferiores: os índios e os negros. Tal mistura teria sido particular ao Brasil, dificultando a distinção das características de cada grupo, isso porque dentre os índios e os negros haveria também grupos muito distintos. Ao falar dos tipos indígenas, ele os denomina de um lado por “população aborígene”, “tribus selvagens”, “guerreiros ferozes e intratáveis” (aymorés), e, de outro, os de “temperamento dócil e pacífico” (os guayanazes de Piratininga), os “selvicolas”.
Os africanos são também diferenciados em superiores e inferiores o que vai depender da possibilidade de serem civilizáveis:

Os minas, os yorúbas, os egbas, os krumanos, os felanins possuem temperamento dócil e civilizavel8, são negros pacíficos, affeitos á obediência e á humildade; já os haussás os efans, os gallas mostram qualidades de altivez, rebeldia e mesmo ferocidade, que os fazem pouco apreciados pelos senhores, ou insusceptiveis de captiveiro (Ibidem, p.120).

Ser civilizável é sinônimo, então, de ‘não ser rebelde’, ‘de deixar-se pôr em cativeiro’, ‘de tornar-se escravo’, ‘de obedecer ao senhor branco’. Este é o sentido produzido para “civilizável” na relação o com o discurso colonizador. Além disso, há o critério da gradação da cor (quanto mais clara a cor da pele, mais inteligente, mais vivazes, mais ladinos) que fariam os índios, negros, mestiços subirem na escala da capacidade permitindo-lhes ocupar ofícios dentre os “civilizados”.
Assim, nessa lógica de preconceito racista possível dentro desse discurso colonialista, alguém será tão superior quanto o branco somente se for branco também, e só atingirá o ápice da evolução se nascer com as características de dólico louro. O preconceito racial chega ao extremo: há os que nasceram para mandar e os que nasceram para obedecer. Os “brancos” teriam nascido com características para ocupar cargos de poder, enquanto as outras “raças” teriam nascido para obedecer. Assim, ele conclui que

o negro puro nunca poderá, com efeito, assimilar completamente a cultura aryana, mesmo os seus exemplares mais elevados: a sua capacidade de civilização, a sua civilizabilidade, não vae além da imitação, mais ou menos perfeita, dos hábitos e costumes do homem branco (Ibidem, p.134).

Os negros, acrescenta, seriam “organicamente incapazes de se elevarem”. Ou seja, ele justifica com fatos biológicos a incapacidade dos negros de se tornarem “civilizados”. Na caracterização das diferentes raças feitas por ele, os índios terminam como a “raça” ainda mais “inferior” do que o negro, pois não se deixa influenciar pelos aspectos da “civilização superior”, enquanto o negro seria sugestionado por ter um “temperamento servil e imitador”.
No censo de 1890, os resultados mostrariam, conforme a interpretação de Viana, a grande quantidade de mestiços, que formaria o “grosso” da população do país, sendo os mestiços, segundo ele, “o verdadeiro typo brasileiro”. Segundo sua interpretação do quadro etnográfico deste recenseamento, o negro e o caboclo estariam desaparecendo por causa da fusão das três raças, e não haveria ainda um “tipo antropológico brasileiro” definido:

O typo antropológico do brasileiro só poderá, pois surgir com a sua definitiva caracterização depois de uma lenta elaboração histórica, quando o trabalho de fusão das três raças originarias se tiver completado e as selecções ethnicas e naturaes tiverem ultimado a sua obra simplificadora e unificadora. Por enquanto, os typos cruzados estão ainda muito próximos das suas origens. Demais, das duas raças inferiores ainda se conservam, no seio da massa nacional, vultuosos contingentes, que ainda não se fundiram inteiramente e guardam intacta a sua pureza primitiva (Ibidem, p. 147).

Uma das causas do “clareamento” que vai ocorrendo, segundo ele, é a vinda dos imigrantes europeus e o cruzamento dessa “massa aryana pura” com os mestiços, o que elevaria “o theor aryano do nosso sangue”. Com estes dados estatísticos que mostravam uma diminuição de índios e negros, ele afirma, então, que estaria havendo um “movimento de aryanização”. Segundo ele, na medida em que os mestiços se misturam com os brancos vai ocorrendo o “refinamento” étnico, isto é, um processo clarificador que aproxima o tipo mestiço do tipo europeu. Mas, apesar da possibilidade de o brasileiro tornar-se branco, ainda assim Viana é taxativo quanto à manutenção da suposta inferioridade, por mais semelhantes que os mestiços possam ser aos brancos por conservarem alguns caracteres “inferiores”.

Nos mulatos, mesmo os mais claros, por exemplo, o sangue negro, em regra, se denuncia nos cabellos, que se lhes encrespam ou “ondeiam” indiscretamente, e nos traços physionomicos, que nem sempre guardam a pureza e elegância do typo aryano. Os labios grossos e o nariz chato do negro persistem, ás vezes, em mestiços, que por outros caracteres em nada diferem de um perfeito exemplar da raça branca (Ibidem, p. 161).

Na última parte do livro, ele trata da evolução das instituições políticas, com uma preocupação nacionalista. No período imperial pós-independência, segundo ele, a dispersão e a fragmentação não são bem vindas porque haveria aí uma preocupação com a “organização política da nacionalidade”, que antes não havia. Os políticos teriam que agir nesse período, ao contrário dos políticos da colônia, de forma a possibilitar a uniformidade da organização política nacional. “Elles não têm diante de si uma vasta colônia a explorar, segundo os preceitos do fiscalismo; mas uma patria a organizar, uma nação a construir, um povo a governar e dirigir” (Ibidem, p. 213).
Ele reconhece que há preocupação nacionalista nos que defendem a descentralização do poder, tal apelo segundo ele representaria a “alma nacional”. Ele, no entanto, defendia a centralização nas mãos de um rei.
A aristocracia é descrita agora como apta para desenvolver a nacionalidade:

Este poder, esta força, este prestigio lhe vem da riqueza, da cultura e do caracter: está no poder econômico, está na força moral, está na intelligencia. Dessa nobreza assim triplicimente prestigiosa, é que vão sahir os constructores da nacionalidade (Ibidem, p. 216).

Na visão de Viana, com sua “política orgângica”, há indivíduos superiores que devem governar uma maioria “inferior” e há sociedades superiores que devem se impor sobre as outras. A defesa de um “grupo nacional” dá-se com a relação entre natureza (raça, meio), psicologia (“caráter”) e cultura (na oposição cultura civilizada/evoluída ou bárbara/primitiva). As diferenças culturais são diferenças biológicas e psicológicas, determinadas pelo meio, naturalizando-se assim a realidade social.
Rodrígues-Zuccolillo, na análise do discurso sobre a língua guarani falada no Paraguai, trata de um tipo de nacionalismo que se inscreve no interior do tradicionalismo na política francesa. Nele, ocorre uma analogia entre a ordem natural e a ordem social, tal como acompanhamos até agora em Viana e que combina com sua visão evolucionista cientificista para justificar a hierarquia social que ele defende. Para a autora,

A analogia entre essas duas ordens é utilizada para justificar a desigualdade entre os homens: partindo de uma determinada interpretação das leis evolucionistas e da seleção natural, os tradicionalistas afirmam a existência de indivíduos com qualidades superiores numa sociedade, que devem governar a maioria ignorante, e de sociedades com culturas superiores que devem impor-se sobre as outras (...) (Rodrígues-Zuccolillo, 2000, p. 44).

 Podemos ver que a ‘inferioridade’ dos negros, mulatos e mestiços garante que o poder continue entre a aristocracia formada por homens brancos, já que por aqueles serem inferiores não teriam capacidade de ocupar cargos de poder, precisando que alguém o faça por eles. O “sentimento de uma patria unica” ainda não estaria formado. O rei seria a peça fundamental do período do império, o que garantiria a unidade das capitanias, pois exerceria um prestígio grande sobre a população.
Dois seriam, portanto, os fatores que Viana parece atribuir à “unidade nacional” no final do século XIX: a fase evolutiva mestiça em que o povo se encontraria, ou seja, o clareamento e com isso a evolução para uma população branca, superior biologicamente; e a comunicação entre as diversas regiões que permitiria a unidade territorial. Esses fatores são levantados por ele em substituição à figura do Rei, que tinha antes esse papel unificador.
Seu discurso nacionalista está fundado na missão civilizadora da raça “superior” (colonizadores e descendentes) sobre as raças “inferiores” (negros, índios e mestiços), e no poder do rei, que foi a figura unificadora até a República.
Desse modo, esse discurso nacionalista se fundamenta no tradicionalismo, na velha ordem colonialista com a defesa da figura do rei, e no naturalismo, com base no Darwinismo social, em que se distingue uma parcela da população inferior que precisa ser ‘tutelada’ pelos que são mais evoluídos. Esse nacionalismo faz ressoar discursos fundadores da missão civilizadora dos portugueses. É um discurso nacionalista vinculado ao discurso colonialista.
Assim, como vimos, os que estão destinados a governar, a partir da análise da formação de nossa sociedade realizada por Viana, são os brancos, isto é os portugueses e descendentes, considerados civilizados. São eles, através do processo de miscigenação e clareamento, que vão constituir o povo brasileiro.

A “sociedade brasileira” para Holanda
Antônio Cândido, no texto intitulado O significado de “Raízes do Brasil”9,expressa a importância das obras Casa Grande e Senzala, Raízes do Brasil e Formação do Brasil Contemporâneo para a conjuntura intelectual e política da primeira metade do século XX. Elas trariam visões que rompiam com o modo como a sociedade brasileira era interpretada. Essa ruptura teria correspondido aos anseios daqueles que compunham a esquerda, socialistas ou comunistas, e que se opunham ao integralismo da época. Essas ideias compõem, segundo Cândido,

a mentalidade ligada ao sopro de radicalismo intelectual e análise social que eclodiu depois da revolução de 1930 e não foi, apesar de tudo, abafado pelo Estado Novo. Ao lado de tais livros, a obra por tantos aspectos penetrante e antecipadora de Oliveira Viana já parecia superada, cheia de preconceitos ideológicos e uma vontade excessiva de adaptar o real a desígnios convencionais (Candido apud Holanda, 1995, p.9).

Percebemos então que o pensamento de Oliveira Viana se distancia das interpretações dadas à sociedade brasileira dadas por autores como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado. As diferenças dizem respeito à visão evolucionista que Viana faz da sociedade brasileira, considerando a suposta superioridade biológica dos brancos em relação aos negros, índios e mestiços. Sua visão perde espaço para outros tipos de abordagens da sociedade trazidas pelas obras de Freyre, Holanda e de Caio Prado, entre outros. Essa outra fase dos estudos sociais não se utilizaria de critérios biológicos, mas culturais, econômicos, entre outros, e traz críticas à herança portuguesa no Brasil.
Entretanto, apesar dessa aparente divisão entre, de um lado, um discurso colonialista, e, de outro, um discurso contrário à dominação portuguesa, nos perguntamos se esses discursos seriam diferentes ou se eles trazem elementos de sentido de enunciados fundadores do mesmo discurso colonialista. A partir desse questionamento, compararemos a análise de A evolução do povo brasileiro com uma análise de Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda.
Um dos pontos divergentes é que enquanto para Viana o povo precisaria ser tutelado por um governo forte, centralizado na figura de um rei,  e por  uma elite formada por aqueles que, segundo ele, seriam “superiores”, formadores da raça portuguesa, e da futura raça brasileira, para Holanda o povo não precisaria ser tutelado já que não realizaria a análise considerando a evolução das raças, isto é, de um ponto de vista naturalizante. Além disso, para ele seria preciso romper com as raízes da colonização portuguesa. Holanda traria, portanto, inovações no sentido de que o rompimento com as raízes da colonização era o melhor a acontecer para o Brasil, considerando que o passado deveria ser relembrado, mas a partir dos problemas do presente, e não enaltecido como um período “próspero”. As dificuldades enfrentadas pelo país na época contemporânea à obra estariam relacionadas, segundo ele, à cultura herdada do mundo rural formado pelas famílias patriarcais inicialmente constituídas pelos colonizadores portugueses.
Holanda realiza sua análise da sociedade brasileira tratando da herança portuguesa que recebemos, uma cultura européia implantada em condições naturais muito diferentes das originárias, mas que teria se desenvolvido muito bem. A cultura e a psicologia do povo português são discutidas pelo autor para explicar o comportamento dos brasileiros, a partir da análise da psicologia dos povos Ibéricos que colonizaram a América do Sul. Observamos aí um continuum ‘psico-sócio-cultural’ na caracterização que Holanda faz dos brasileiros, continuum que reduz o que é resultado do processo histórico e político ao tomar o que é cultural por características psicológicas, e consequentemente, naturais. A noção de cultura é central para compreender essa naturalização, ao ser considerada como ‘reflexo’ de características ‘naturais’ das sociedades, e não como resultado do processo histórico.
Ele trabalha com a idéia de que a cultura de um povo assimila características da cultura de outros povos quando se trata de culturas afins e isso teria acontecido entre a cultura portuguesa e a brasileira. Vejamos, então, na materialidade lingüística, pelo funcionamento do pronome “nosso” em relação à sociedade brasileira, que se opõe à ‘sociedade portuguesa’, a disputa de sentidos que vai determinando o modo como os brasileiros são representados na sua obra.
Já no início do texto, ele fala em sociedade brasileira, marcando a distinção em relação à sociedade portuguesa. Em seguida, ele fala das “nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas idéias” (Holanda, 1936, p.31). A utilização do pronome possessivo nossas novamente, que inclui o locutor, parece manter essa alteridade entre nós (sociedade brasileira) e o outro (sociedade portuguesa).
No meio do parágrafo, notamos, entretanto, o seguinte enunciado: “somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra”. Então nos perguntamos se o pronome nós elíptico do verbo somos refere os portugueses ou os brasileiros. Poderíamos pensar que se trata dos brasileiros; entretanto, a predicação desterrados causa um estranhamento quando pensamos nos brasileiros. Quem foi desterrado? É a pergunta que fazemos. Seguindo ainda no mesmo enunciado, encontramos o seguinte: “(...) o certo é que todo o fruto de nosso trabalho, ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem” (ibidem, p. 31).
Pela articulação com o enunciado acima, observamos que também se opera uma imprecisão, um equívoco, sobre de quem se está falando. São os brasileiros, mas são ao mesmo tempo os descendentes dos portugueses que vieram colonizar o Brasil, se consideramos quem foi desterrado. Historicamente, foram os portugueses que saíram de suas terras na Europa para colonizar o Brasil. Mas no momento em que Holanda escreve sua obra e busca compreender, a nossa sociedade é brasileira, não apenas porque em muitos aspectos difere-se da portuguesa, mas porque oficialmente somos um país independente. A relação de posse que fica estabelecida com o pronome nossa em “nossa terra” poderia ser parafraseada por “nossa colônia”, “nosso território”, “nosso país” ou seja, é a terra que pertence aos portugueses ou seus descendentes? Ou aos brasileiros? O equívoco produzido por esse enunciado que remete ao mesmo tempo ao passado e ao presente, já nos leva a perceber que a obra de Holanda traz algumas relações de sentido com a obra de Viana. 
Holanda vai descrevendo a sociedade brasileira, mostrando que suas características psicológicas seriam “herdadas” dos portugueses. Haveria uma frouxidão da estrutura social, falta de hierarquia organizada - comum a Portugal e ao Brasil, ou seja, mesmo fazendo a distinção Portugal/Brasil, essas nações teriam as mesmas características. Assim, são naturalizadas as características da sociedade brasileira.
O pronome possessivo nossa continua sendo usado para as características que ele vai apontando: “nossa vida social”, “nossa anarquia”, “nossa incapacidade de organização”, sem, no entanto, que fique definido a quem esse pronome refere. Ao falar do princípio de hierarquia, ele diz que este nunca foi importante entre nós. Em seguida, no mesmo parágrafo, ele justifica essa aversão à hierarquia afirmando que os privilégios hereditários sempre incomodaram portugueses e espanhóis. Pelo domínio semântico de determinação (DSD), podemos ver que “nós” significa da seguinte forma nesse acontecimento:

                       Sociedade portuguesa ┤ nós ├ portugueses e espanhóis

Assim, esse pronome nós, em princípio indefinido, ao longo do texto é determinado por portugueses e espanhóis e por sociedade portuguesa. Portugueses e brasileiros ficam indistintos na medida em que ele usa o pronome nosso(a), referindo-se à sociedade brasileira mas descrevendo as características dos portugueses.
Ele ainda afirma que a característica da falta de coesão da sociedade portuguesa não seria proveniente de uma “inelutável fatalidade biológica”. Mas ele afirma que “a instabilidade constante de nossa vida social” é decorrente “de nosso natural inquieto”. Anteriormente, ele nega o fator biológico como determinante, e acaba julgando a inquietude como sendo natural. Assim, para ele, teria havido a transferência de culturas européias para o Novo Mundo. No “caso brasileiro” veio a cultura portuguesa:

uma tradição longa e viva, bastante viva para nutrir, até hoje, uma ‘alma comum’ a despeito de tudo quanto nos separa. Podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa cultura; o resto foi matéria que se sujeitou mal ou bem a essa forma (Holanda, 1936, p. 40).

É a cultura portuguesa que prevalece, e o que ocorre no Brasil seria uma continuidade disso, uma questão de “alma”. Trata-se de uma visão essencialista. Isso parece se confirmar ao longo do texto ao descrever a conquista portuguesa, pois para Holanda, os portugueses realizam a “conquista do trópico para a civilização”, sendo eles “portadores naturais dessa missão” (Ibidem, p. 43).
Novamente há a naturalização da conquista portuguesa, em contradição com a idéia de não atribuir a fatores biológicos as características portuguesas. O enunciado “conquista do trópico para a civilização” pode ser parafraseado por a ‘conquista do Brasil para Portugal’; ‘a colonização do Brasil para Portugal’; ‘a conquista do selvagem para a civilização’. Todas as paráfrases revelam que a Europa seria civilizada enquanto o trópico, por oposição, seria ‘não- civilizado’, ‘selvagem’, ‘rudimentar’. Essa oposição toma como referência Portugal, como o que é ‘bom’, ‘civilizado’, enquanto o Brasil precisaria ser “conquistado” para a civilização, discurso que se filia à posição do colonizador português, muito próximo do papel civilizador no discurso do colonizador presente no texto de Viana.
Mais à frente ele fala da ganância sem grandes esforços própria “da gente de nossa terra”. Nessa expressão, o locutor não se inclui entre a gente da qual ele fala, mas coloca o pronome pessoal nossa junto ao substantivo terra. O pronome inclui o locutor entre aqueles que possuem a terra, mas exclui a “gente” dessa relação de posse. Então, ele começa uma descrição daqueles que iniciaram a colonização, de modo a explicar a formação da nossa sociedade. Distinguir-se-iam, pois, dois “tipos”10 de portugueses. O aventureiro seria caracterizado pela “audácia, imprevidência, irresponsabilidade instabilidade, vagabundice” (Ibidem, p. 44), seus esforços são atribuídos em função de uma recompensa rápida. Já o trabalhador teria como objetivos a “estabilidade, a paz a segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material” (ibidem, p. 44). Teria sido o “tipo aventureiro” que atuou na conquista e colonização dos “novos mundos”, segundo ele, e a partir do qual teria se formado nossa sociedade:

E, no entanto, o gosto da aventura, responsável por todas essas fraquezas, teve influência decisiva (não a única decisiva, é preciso, porém, dizer-se) em nossa vida nacional. Num conjunto de fatores, tão diversos, como as raças que aqui se chocaram, os costumes e padrões de existência que nos trouxeram, as condições mesológicas e climatérias que exigiam longo processo de adaptação, foi o elemento orquestrador por excelência. Favorecendo a mobilidade social, estimulou os homens, além disso, a enfrentar com denodo as asperezas ou resistências da natureza e criou-lhes as condições adequadas a tal empresa (Ibidem, p. 46).

A “adaptação” é um dos elementos essenciais apontados por ele para o sucesso da colonização dos portugueses, isto é, ele admite a “influência” do meio na formação de nossa sociedade. Uma posição semelhante à de Viana no que se refere à influência do meio sobre os portugueses.
Outro ponto que o aproxima de Viana é quando Holanda distingue os “tipos” nas “sociedades rudimentares” correspondentes aos tipos mencionados acima. Os povos rudimentares seriam os “povos caçadores ou coletores” e os “povos lavradores”. Fica estabelecida a seguinte divisão: há as sociedades civilizadas, divididas em tipos aventureiros e trabalhadores, e há as sociedades rudimentares divididas em caçadores e lavradores. Observamos nos enunciados até agora expostos a oposição entre civilizado e rudimentar (não-civilizado). Os portugueses são considerados como o povo civilizado e os outros povos, no caso os índios que são caçadores e coletores, como rudimentares. Holanda estabelece a distinção portugueses, colonos portugueses, descendentes, de um lado, e índios, de outro; as habitações, como descreve, são habitações européias nos trópicos. Ou seja, ele não utiliza o substantivo brasileiros para falar dos colonos que já viviam no Brasil e nem o adjetivo brasileira para se referir ao tipo de habitação construída aqui. 
Ao tratar da agricultura, que se desenvolveu  em latifúndios por causa das grandes extensões de terras férteis no nordeste, ele caracteriza o índio. O braço indígena foi usado para o trabalho, mas foram tentativas frustradas pois, de acordo com o autor, os índios

dificilmente se acomodavam ao trabalho acurado que exige a exploração dos canaviais (...) Versáteis ao extremo, eram-lhes inacessíveis certas noções de ordem, constância e exatidão, que no europeu formam como uma segunda natureza e parecem requisitos fundamentais da existência social e civil. O resultado eram incompreensões recíprocas que, de parte dos indígenas, assumiram quase sempre a forma de uma resistência obstinada, ainda quando silenciosa e passiva, ás imposições da raça dominante (Ibidem, p. 48). 

 Neste trecho, Holanda descreve os índios como um grupo que não se adéqua às existências social e civil tal como estas são compreendidas para os portugueses. Para estes últimos, a base para o trabalho é composta pela ordem, constância e exatidão, que não eram compreendidas pelos índios. Ele ainda se refere ao europeu como raça dominante. Mesmo não tratando do ponto de vista racial, utiliza essa denominação para se referir aos portugueses e novamente ele se inscreve no discurso colonialista, ao qual Viana está filiado. Na sua interpretação do que se passa na colonização ressoam os sentidos de um discurso fundador de que o europeu é quem trabalha e os índios não se adequariam ao trabalho “acurado”. São sentidos provenientes de um discurso fundador que ainda circula, de que os índios ‘são preguiçosos’ e, no início do século XX, época em que o livro foi escrito, esse sentido é transposto para o ‘brasileiro’.
Ele afirma que por serem inacessíveis aos índios os requisitos básicos para o trabalho, isto seria uma forma de resistência às imposições da raça dominante, isto é, há um reconhecimento de que os índios foram submetidos às imposições dos portugueses à imposição da sua cultura, enquanto que para Viana, isso seria “civilizar”. Mas mesmo havendo esse reconhecimento, Holanda naturaliza as características culturais e mantém a “missão civilizadora” dos portugueses. Como nos diz Orlandi (2003) sobre a não adaptação dos índios ao trabalho em uma análise do discurso fundador do Diálogo da Conversão do Gentio,

Visto de um lado de cá do Oceano Atlântico, isso pode ser lido como resistência; não seriam vícios, mas um modo de não responder ao poder exercido pelo colonizador para submeter. Porém, em nossa história oficial, vista do outro lado do Atlântico, e mesmo na fala do senso comum, a versão dominante é a moralista, a que nega ao político o sentido do político. Somos naturalmente inconstantes, irresponsáveis e ociosos (Orlandi, 2003, p. 21).

E Holanda, mesmo se situando “do lado de cá do Oceano Atlântico” acaba por naturalizar as características dos índios, mestiços, negros, portugueses, significando-as de um ponto de vista colonial “do lado de lá”, e assim, representando o que é ser brasileiro no século XX.
Ao longo do capítulo, índio é reescrito por antigos moradores da terra, por braço indígena, homem rústico, povo genuínamente agricultor, por gentio da terra, povo natural, indígenas, antigos naturais da terra, gentio, indígenas do país. Já a palavra portugueses, enquanto ele fala do Brasil colônia, aparece várias vezes, e é reescrita por europeu, por raça dominante, por colonos de pura estirpe germânica, por português no Brasil, por brasileiros de ascendência lusitana, povo de mestiços, dominadores, brancos, por luso-brasileiros, colonizadores europeus. Ele refere-se aos negros como negros, pretos, escravos, africanos, homens de cor. Assim temos os seguintes DSDs, em que o símbolo --- estabelece uma relação de sinonímia construída no texto:


Comparando o modo como Holanda refere índios e portugueses, observamos que o índio é o que pertence à terra, que por sua vez pertence aos portugueses. Isto é, os portugueses têm direito à terra, mas que ‘já vem com índios’, ‘naturais da terra’, seja pelo adjetivo natural, seja pelo adjunto da, do. A relação do índio com o Brasil é, assim, de pertencimento, não de “dono”. Já em relação aos portugueses, estes são os que dominam, seja pelo sintagma nominal raça dominante, seja pelo substantivo dominadores. Holanda não se refere aos que viviam no Brasil, índios, portugueses ou negros, como brasileiros. Esta palavra aparecesomente determinando lusos / lusitanos.
Ele se dirige aos índios e as suas práticas agrícolas como rudimentares, predatórias, dissipadoras, opondo-as às técnicas dos portugueses, que seriam ‘progressivas’, mas que não seriam utilizadas por sua “indisposição” para o trabalho. Até mesmo os colonos de pura estirpe germânica também passaram a usar os métodos “rudimentares” dos índios:
Os negros também usariam de métodos primitivos para plantar algodão e cita depoimentos que os comparam ao modo como os índios norte americanos plantavam milho. Assim, para Holanda, os portugueses teriam se adaptado facilmente ao modo de vida indígena, mas não porque ele reconhecesse qualidades nesse tipo de vida ou que ela fosse tão boa quanto ou apenas diferente da vida dos portugueses, mas porque sua vida se guiaria pela “lei do menor esforço”, uma vida “fácil” à qual o tipo português aventureiro se adequara rapidamente. Há um apagamento das determinações econômicas, históricas e políticas quando ele fala que os portugueses se adaptam logo “a uma vida fácil, e à convivência com os outros povos:

A vida parece ter sido aqui incomparavelmente mais suave, mais acolhedora das dissonâncias sociais, raciais e morais. Nossos colonizadores eram, antes de tudo, homens que sabiam repetir o que estava feito ou o que lhes ensinara a rotina (Ibidem, p. 52).

Observamos os sentidos que fazem parte do discurso fundador de que no Brasil haveria uma ‘convivência pacífica entre negros, índios e brancos, apagando-se uma história de conflitos, de revoltas e também o preconceito. Entre os portugueses, segundo ele, não haveria “orgulho de raça” ou, como ele retifica, não completamente. Isso porque eles já teriam começado a se misturar com “gente de cor” muito antes de isso acontecer no Brasil, onde, entretanto, a mistura passa acontecer de forma mais intensa já sem “o sentimento de distância entre os dominadores, aqui, e a massa trabalhadora de homens de cor” (ibidem, p. 54-55). Segundo ele, portugueses e negros se relacionavam bem por conta da mistura e da convivência entre eles:

O escravo das plantações e das minas não era um simples manancial de energia, um carvão humano à espera de que a época industrial o substituísse pelo combustível. Com freqüência as suas relações com os donos oscilavam da situação de dependente para a de protegido, e até de solidário e afim. Sua influência penetrava sinuosamente o recesso doméstico, agindo como dissolvente de qualquer idéia de separação de castas ou raças, de qualquer disciplina fundada em tal separação (Ibidem, p. 55).

Havia casos, como ele cita, em que se impedia que os negros ocupassem cargos públicos, mas que para ele teriam se tratado de “casos particulares”, não de um “exclusivismo racista” onde somente “brancos puros” ocupassem tais cargos, mas porque, tradicionalmente, ao negro ficava associada a ideia de que ele fizesse trabalhos vis por causa da escravidão, um “estigma social”. É interessante observar que no discurso de Holanda são apagados os preconceitos raciais quando ele afirma ser a convivência entre as raças sem “dissonâncias”, através do estabelecimento de “laços sentimentais” que os aproximavam. Entretanto, ele mesmo cita casos em que negros sofriam preconceito e eram discriminados.
Ao caracterizar a sociedade que vai se formando, o domínio dos sentidos que se atribui ao colonizador português é sempre da ordem da disciplina, do racional, da organização, da facilidade de adaptação, enquanto que do domínio de sentidos atribuídos aos índios e africanos é sempre da ordem da indisciplina, da ociosidade, do sentimental, do exótico, do rudimentar, do selvagem, do natural, e isso teria influenciado os portugueses. Enfim, reconhecemos uma posição sujeito filiada ao discurso do colonizador.
Uma outra questão que ele aborda é a relação que se estabelece entre o meio rural e as cidades. Os portugueses teriam implantado uma civilização rural, mas não agricultora, que teria vigorado fortemente durante toda a época colonial até a abolição da escravidão em 1888. Os senhores preferiam suas fazendas onde tinham seu próprio mundo, onde sua palavra era lei. Esse mundo só começaria a ruir quando vem a Abolição e destrói o pilar que sustentava o poderio rural: o trabalho escravo.
O meio rural é abalado pelo fim da escravidão, os senhores perdem seu prestígio e dinheiro.  Com isso, essas famílias vêm para as cidades para ocupar cargos políticos, burocráticos e de profissionais liberais e utilizam, para a administração pública, o mesmo funcionamento da vida familiar. Assim é que o espaço público, que deveria funcionar pelo profissionalismo, passa a ser gerido por “sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do público pelo privado, do Estado pela família” (Ibidem, p. 82).  
Ao longo desse capítulo em que fala da “Herança Rural”, o pronome possessivo nossa(o) continua aparecendo muitas vezes, assim como a expressão entre nós, sem que seja dito que se tratam dos brasileiros. Entretanto, ao tratar da riqueza acumulada com o tráfico negreiro, ele distingue brasileiros e portugueses, mencionando um “nativismo lusófobo”, mas isso acontece quando ele está falando do século XIX, depois da Independência. Mais à frente, ele também distingue “nós”, “nossa vida política” de “colonização portuguesa”.
É somente quando ele descreve o homem cordial que observamos uma distinção entre portugueses e brasileiros. Finalmente, ele se refere ao brasileiro, descrevendo o “caráter brasileiro”. O brasileiro é representado na figura do “homem cordial” que age motivado pelos sentimentos e não pela razão. Holanda descreve o brasileiro como egoísta, desorganizado, motivado pela emoção, sem devoção religiosa.
Uma outra questão que Holanda discute é o par Estado/família. Para ele, tratar-se-iam de duas esferas descontínuas, sendo a primeira da ordem do geral, pública, enquanto a segunda seria da ordem do particular, do sentimento:

(...) um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente, do núcleo familiar – a esfera, por excelência dos chamados “contatos primários”, dos laços de sangue e de coração – está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem assentar a sociedade em normas antiparticularistas (Ibidem, p. 146).

A divisão entre família e sociedade se assemelha à distinção feita por Tönnies (1887) entre comunidade (Gemeinschaft) e sociedade (Gesellschaft). Para este autor, a família seria um exemplo de comunidade enquanto o Estado seria próprio da sociedade. Comunidade e sociedade distinguem-se porque a primeira seria regida por laços naturais, irracionais, afetivos, tal como a ideia de família apresentada por Holanda. Na noção de sociedade, tal como ele a compreendia, prevaleceriam os laços racionais e as relações seriam determinadas artificialmente, através de acordos. Na família, a hierarquia que se tem é determinada pelos laços sanguíneos, prevalecendo os sentimentos como a paixão, o desejo.
As formas coletivas de comunidade se desenvolveriam até tornarem-se uma sociedade alcançando a vontade arbitrária da sociedade. Ao longo da história, segundo o autor, a cultura popular é substituída pela civilização do Estado. O povo, para ele, é que teria o poder social, e para ser um grupo dominante é preciso que haja união nacional, o que também depende das condições econômicas. Seria então através da força de trabalho da nação, da produção capitalista, que o povo teria poder e assim se chegaria à união nacional. A cidade, nesse caso, é o estágio superior da sociedade em relação à casa, à aldeia, à vila que são próprias da comunidade. Principalmente quando esta é caracterizada como “urbe”. Esta já relacionada à nação, não tem características de comunidades a não ser esporadicamente ou a partir de “condições primitivas”. A urbe é um centro comercial, de ciência e de cultura, é típica da sociedade.
A descrição que Holanda faz das relações familiares no Brasil é próxima a que caracteriza a família como comunidade. A questão é que no Brasil, as relações familiares regidas pelos laços de sangue teriam sido transpostas para a cidade e a sua administração seria regida pelos laços naturais de parentesco, isto é, os “laços de sangue e de coração” que seriam “primários”, prevalecendo os sentimentos onde deveria prevalecer a razão. A teoria naturalizante de Tönnies serviu e ainda serve, mesmo que não explicitamente, de base para as Ciências Sociais. No caso da análise da sociedade brasileira, a naturalização das relações sociais, através de explicações psicológicas (emocionais), biológicas das características dos brasileiros impede que elas sejam observadas do ponto de vista político e histórico. São permitidos que argumentos como o da inferioridade das raças e das culturas acabem servindo como justificativa para a escravidão, para o extermínio dos índios e para a dominação portuguesa.
O problema dessa análise é que como nela se constrói uma rede de sentidos que tornam as características naturais, inatas, dá-se um efeito de evidência para tais sentidos, como se não houvesse outras interpretações possíveis, como se isso fosse uma verdade incontestável e não uma interpretação. Essa naturalização pode ser considerada como parte de um discurso do colonizador que se estabilizou ao longo do processo histórico em textos considerados clássicos, e são sentidos que fazem parte de um discurso de crítica à colonização portuguesa, sem contudo romper com uma discursividade pejorativa em relação aos brasileiros. Esse olhar que naturaliza as características impede que se vejam as diferenças e com isso seremos sempre a extensão de Portugal, e não outra nação, com outra língua, com outra cultura e outra civilização, fora, portanto, desse esquema que naturaliza as relações sociais.
No último capítulo de seu livro, Holanda vai criticar não apenas o modo de vida das famílias rurais detentoras de poder, mas também as formas de governo que sustentavam o poderio dessas famílias. De acordo com ele, haveria desde a colonização do Brasil uma “revolução silenciosa”, sendo a abolição da escravidão em 1888 um marco perceptível que teria causado uma continua mudança na ordem social e política vigente, levando aos poucos ao “aniquilamento das raízes ibéricas”.
A velha ordem social estava sendo posta de lado com as mudanças econômicas e políticas que se configuravam nos anos 30 do século XX, e que Holanda busca compreender. Uma preocupação com a “nossa vida nacional” permeia sua obra, que ele busca destacar sem enaltecer a herança portuguesa e mostrando a necessidade de romper com ela.
Apesar disso, ao descrever a formação da sociedade brasileira, observamos pelo equívoco da indistinção entre nós e o outro que o discurso do colonizador acaba circulando. Ocorre a relação português – civilizado/ índio – não-civilizado, bem como a naturalização dessas relações. A caracterização da sociedade brasileira, nesse caso, faz com que portugueses e brasileiros fiquem indistintos.

Considerações finais
Não esperávamos com a realização dessas análises chegar a uma resposta definitiva para quem é  brasileiro para cada um dos autores, mas observar os enunciados e palavras que vão constituindo sua representação.  É sempre a partir da relação com o português que se interpreta o brasileiro. E isso se deu, nas obras analisadas, no interior de um nacionalismo que se mistura ao discurso colonialista. Os aspectos culturais e os problemas sociais são explicados a partir de um quadro biologista em que se naturaliza a formação social.
Para Viana, utilizando o princípio biológico da evolução determinada pelo meio, a evolução das raças no Brasil é determinada pelas condições geográficas e climáticas. Distinguem-se “raças inferiores” e “raças superiores”, justificando a dominação dos portugueses na época da colonização e mesmo a administração do Brasil na época do Império e da República por uma elite. Nessa lógica, civilização se opõe ao primitivo: os portugueses são uma ‘raça evoluída’ e ‘superior’ por serem brancos, portanto ‘civilizados’, enquanto os índios, mestiços e negros são tratados como ‘raças exóticas’, ‘primitivas’, ‘inferiores’.
Já para Holanda o determinismo do meio para a análise das características dos tipos dá lugar à análise psicológica e à diferença cultural vinculada ao meio natural. Nessa lógica, opõe-se razão à emoção e o brasileiro então é representado movido pelos sentimentos, pela emoção. O discurso tradicionalista que inspira os nacionalismos do final do século XIX parece estar determinando o discurso nacionalista a partir do qual fala Holanda, e Viana também.  A razão é da ordem do civilizado, do evoluído enquanto a emoção é da ordem do sentimento, do irracional (por não ser controlada), do primitivo.
Ao tratar de nossa vida nacional, Holanda não distingue portugueses e brasileiros e quando o faz, no final de sua análise, descreve os brasileiros como emocionais (irracionais), característica natural e primitiva. Assim, apesar desta obra fazer parte de um conjunto considerado de grande importância por trazer novas interpretações sobre o Brasil, as diferenças entre portugueses e brasileiros ficam apagadas e, quando se mencionam diferenças, os brasileiros são representados como sendo movido pelos sentimentos, ou seja, pelo que é irracional.
Observamos com essa análise que, em alguns momentos certos discursos, como o do evolucionismo, da civilização, próprios dos discursos da colonização, que compõem discursos fundadores sobre o Brasil, ainda circulam, mas com o deslizamento dos sentidos: o determinismo do meio dá lugar ao psicologismo e a relação de superioridade e inferioridade se dá em relação à cultura.
A preocupação nacionalista brasileira que aparece na obra de Viana e a crítica à colonização portuguesa, também de fundo nacionalista, na obra de Holanda produzem evidências sobre a relação colonizador/colonizados, negros/brancos/índios/mestiços, como observamos pelo funcionamento dos pronomes na primeira pessoa do plural e pelos enunciados recortados, de forma a homogeneizar essa relação. Isso faz com que esses tipos estereotipados acabem convergindo, através da miscigenação, ou da ruptura com as raízes ibéricas, no brasileiro do início do século XX.

 

Notas

1 Doutoranda em Lingüística no Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP com o apoio da CAPES no Brasil e do convênio Capes/COFECUB para o período de doutorado-sanduíche no Laboratório Triangle da ENS-LSH de Lyon no quadro do Projeto “O controle político da representação: uma história das idéias”.

2 A edição utilizada para o estudo realizado aqui não apresenta data de publicação. Desse modo, através de uma pesquisa verificou-se o ano de 1923 como sendo o ano da publicação.
In:http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/oliveiraviana.htm Acesso em: 20/04/2008.

3 Francisco José de Oliveira Viana (1883-1951) foi jurista, professor, etnólogo historiador e sociólogo. Publicou vários livros dedicados ao estudo da sociedade brasileira. Dentre os diversos cargos exercidos por ele, foi consultor jurídico do ministério do trabalho, tendo colaborado na organização da legislação trabalhista que serviu de base para a atual legislação. Também foi membro da Comissão especial de revisão da Constituição e em 1940 tornou-se ministro do Tribunal de contas da Justiça. Ocupou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico, tendo sido membro de outras academias e institutos importantes.
In: http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/oliveiraviana.htm Acesso em: 20/04/2008.

4 O autor enuncia dizendo-se imparcial e objetivo, posição própria do discurso positivista.

5 Trata-se do estrangeiro.

6 A hiponímia é uma relação de sentido em que uma expressão tem seu sentido incluído no sentido mais amplo de uma outra expressão que será seu hiperônimo. Segundo Guimarães (2007), esta relação de sentido é uma construção lingüística, não depende de uma relação referencial fora da linguagem.

7 Preocupamo-nos aqui em não sermos anacrônicos, pois a teoria evolucionista utilizada para estudos das sociedades era comum no final do século XIX e como vemos, no início do século XX também. O preconceito racial ainda persiste em nossos dias embora seja muito condenado, e não seja muito explícito.

8 Grifo nosso.

9 Trata-se do texto que introduz o livro Raízes do Brasil, 26ª edição.

10 Holanda se utiliza aqui dos tipos estabelecidos por Weber. Os tipos weberianos são ordenados em pares antagônicos que interagem dialeticamente: por exemplo, quando Holanda divide os portugueses em tipo aventureiro e tipo trabalhador. A análise por pares contrários seria uma tendência seguida no pensamento latino-americano.

 

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