APRESENTAÇÃO
O número 22 de Línguas e Instrumentos Lingüísticos reúne textos que contribuem para a história das idéias por diferentes vias. São objetos de reflexão os percursos de uma palavra, de uma disciplina, de um autor, de uma prática de ensino, de um conjunto de documentos institucionais, de uma ‘língua política’.
Em “A palavra etnia: nomear o outro – origem e funcionamento do termo etnia no universo discursivo francês”, a pesquisadora Alice Krieg-Planque analisa a enunciação da palavra ‘etnia’ e seus derivados em textos teóricos e jornalísticos produzidos na França. Ela mostra como a substituição de ‘raça’ por ‘etnia’, longe de produzir um deslocamento conceitual, produz, antes, um efeito eufemístico condizente com a era do “politicamente correto”.
“Uma reflexão sobre atitudes lingüísticas”, de Leila Salomão Jacob Bisinoto, faz um retrospecto das teorias sociolingüísticas e das questões fundamentais que estas têm abordado. Pela discussão da relação entre língua, sujeito falante e sujeito pesquisador nas posições teóricas abordadas, o texto leva a pensar, para além das “atitudes lingüísticas” no falar ordinário, sobre as “atitudes lingüísticas” do pesquisador.
Em ““Professor, por que você fala ok?” Desculpa para falar de políticas lingüísticas”, Francisco Vanderlei Ferreira da Costa parte de sua experiência na formação de professores indígenas para discutir questões pertinentes às políticas sobre línguas indígenas. Ao dar visibilidade a fatos pontuais como a inexistência de Cursos de Letras especializados em línguas indígenas do Brasil, o artigo leva a refletir sobre as línguas como objetos de ensino na educação brasileira.
Em “História e discurso em Michel Foucault”, o historiador André Luiz Joanilho e a lingüista Mariângela Pecciolli Galli Joanilho examinam duas noções centrais na obra de Michel Foucault – as de história e discurso – em torno da pergunta: “existe um método foucaultiano?”. À luz da pergunta condutora e das noções focalizadas, o artigo discute algumas críticas correntes sobre Foucault e dá visibilidade aos elementos que orientam a escrita foucaultiana.
A seção Crônicas e Controvérsias apresenta o artigo “Efeitos do científico na constituição da Lingüística e da Teoria Literária na UNICAMP”. Por meio da análise de documentos que fizeram parte da criação do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, Ana Claudia Fernandes Ferreira reflete sobre os efeitos do científico nas relações estabelecidas entre Lingüística e Teoria Literária. Dentre os resultados do trabalho, está a constatação de um imaginário consensual produzido para cada um dos domínios de saber, do qual faz parte a apreensão de que a Lingüística é ciência e a Teoria Literária não é.
A Resenha deste número é de Estudos sobre a língua política: Filologia e Política na Florença do século XVI, dos pesquisadores franceses Jean-Claude Zancarini, Jean-Louis Fournel e Romain Descendre. O livro reúne artigos dos três autores, que trabalham sobre o pensamento político dos florentinos no período das guerras da Itália (fim do século XV e início do XVI). Sheila Elias de Oliveira e Mariângela Pecciolli Galli Joanilho apresentam o objeto de cada um dos textos, e a metodologia inovadora dos autores – a Filologia Política – que permite, a partir da análise da língua política, a reinterpretação de textos bastante conhecidos e estabilizados no pensamento político ocidental moderno.
Com este conjunto de análises, o número 22 de Línguas e Instrumentos Lingüísticos espera oferecer mais uma vez uma contribuição para o pensamento constituído no domínio dos Estudos da Linguagem.
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