APRESENTAÇÃO

O número 21 de Línguas e Instrumentos Lingüísticos reúne um conjunto de artigos que trazem novas interpretações a textos muito conhecidos  nos  domínios de conhecimento nos quais se inserem.
Em Palavras próprias e alheias, Eduardo Guimarães examina a primeira gramática da língua portuguesa, de 1536, escrita pelo padre lusitano Fernão de Oliveira. A análise, que focaliza o primeiro dos cinco pontos em que a gramática se divide, sobre a procedência das palavras, mostra como a divisão entre palavras próprias, comuns e alheias é fundamental na compreensão da concepção da língua de Oliveira.
Em Intervenção da escrita: uma nota para o esquecimento em Raízes do Brasil, Wilton James Bernardo-Santos também realiza uma análise de detalhe, ao tomar como objeto uma nota sobre a língua acrescentada em edição posterior ao texto de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, na qual examina a enunciação da relação entre o português e o tupi.
Em Do estado infinito ao estado finito do verbo: os limites enunciativos da unidade sentencial, Bruna Karla Pereira e Luiz Francisco Dias discutem o  infinitivo no português, de uma perspectiva enunciativa a partir da qual opõem-se às teorias que defendem a centralidade do verbo na sintaxe. Eles sustentam que o sujeito é a categoria que retira o verbo do seu estado de dicionário e reexaminam, a partir deste novo ponto de vista, o funcionamento da flexão.
Em Efectos de cientificidad y los modos de decir en el discurso académico en español, Beatriz Hall analisa manuais de disciplinas introdutórias aos cursos de graduação da Universidade de Buenos Aires. Comparando obras das ciências naturais e sociais, ela aponta formas recorrentes em procedimentos enunciativos comuns, como o da definição, pelos quais se produz o efeito de neutralidade sobre a enunciação do cientista e do divulgador.
Na seção Crônicas e Controvérsias, Generalizar o único: gêneros, tipos e esferas em Bahktin analisa um texto da década de 1950 de Mikhail Bakhtin conhecido no Ocidente por meio de traduções. Patrick Sériot recontextualiza a noção de “rečevye žanry”, que propõe traduzir por “gêneros da fala” e não por “gêneros do discurso”, como é corrente na França (e no Brasil). A partir daí, ele questiona a recepção de Bakhtin na França, a qual teve efeitos em algumas de suas vias de recepção no Brasil.
A Resenha deste número rememora um evento importante na história das idéias lingüísticas no Brasil: a realização, na USP e na UNICAMP, da Ninth International Conference in the History of Language Sciences, em 2002. A leitura cuidadosa de Ana Cláudia Fernandes Ferreira de History of Linguistics 2002,  publicação de 2007 da John Benjamins que reúne sessões plenárias e comunicações selecionadas, nos permite percorrer a diversidade dos objetos de pesquisa e das posições teóricas em jogo, e também situar as pesquisas brasileiras em um conjunto maior de trabalhos.  
Com o agrupamento desses textos particularmente provocadores, Línguas e Instrumentos Lingüísticos espera mais uma vez fomentar o debate e contribuir para o avanço das idéias lingüísticas no Brasil.

Os Editores

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